

Ativistas questionam esforços dos cardeais Parolin e Tagle em casos de abuso sexual
Ativistas contra a violência sexual na Igreja católica questionaram, nesta sexta-feira (2), se dois cardeais com chances de se tornarem o próximo papa, Pietro Parolin e Luis Antonio Tagle, atacariam o flagelo para proteger as crianças de abusos futuros.
O conclave começa em 7 de maio e esta questão será um dos principais desafios para o sucessor do papa Francisco.
O italiano Parolin, secretário de Estado do falecido papa argentino, e Tagle, ex-arcebispo de Manila, aparecem na lista de possíveis papáveis.
"Se o cardeal Parolin se tornar papa, teremos um consumado guardião do segredo à frente da Igreja católica, e acho que qualquer esperança de transparência em torno do abuso sexual será completamente frustrada", disse Anne Barrett Doyle, codiretora da ONG Bishop Accountability, sediada nos EUA, que documenta a violência clerical.
"Nenhum funcionário da igreja no mundo ocultou tantos documentos sobre abusos das autoridades civis quanto o cardeal Parolin", disse Doyle em uma entrevista coletiva do lado de fora dos muros do Vaticano.
Ela citou vários exemplos de "obstrução da justiça" ao redor do mundo, incluindo no Chile, no Reino Unido e na Polônia, pelos quais destacou Parolin como o principal responsável.
A ativista também observou que Tagle foi arcebispo de Manila durante a "era das trevas" do abuso sexual. Essa arquidiocese nem sequer publicou diretrizes para lidar com casos de abuso.
Nas Filipinas, de maioria católica, apenas uma vítima denunciou publicamente, afirmou.
"Não vimos um esforço proativo" da Tagle "para resolver isso, para evitar isso", disse Michal Gatchalian, um advogado de 44 anos nas Filipinas, que falou com repórteres por videochamada.
Gatchalian disse que ter sido um dos muitos menores que foram alvos de um "predador em série" em sua igreja. Depois de acusar o padre em 2002, ele disse que foi vítima de ameaças, ostracismo e assédio por parte de membros de sua congregação.
Tagle também foi questionado sobre a contratação na República Centro-Africana de um padre belga condenado por abuso infantil pela organização beneficente Caritas, quando ele a liderou de 2015 a 2022.
Doyle insistiu que as preocupações não se limitam apenas a Parolin e Tagle.
"Não importa quão gentil seja um homem que se torne papa, não acho que a Igreja esteja pronta para virar a página sobre abuso sexual infantil. Estou pessimista".
O Vaticano não quis comentar a respeito.
J.Gustafsson--RTC